Carlos Manuel de Ascenção Almeida, nascido em Lisboa em 1941, é o nome de registo do fadista Carlos do Carmo, que optou por este nome artístico em homenagem a sua mãe, Lucília do Carmo, uma das mais talentosas fadistas portuguesas de sempre.
Ainda novo, os pais enviaram Carlos do Carmo para a Suíça, onde viria a tirar três cursos que o habilitaram cultural e humanamente para uma vida que, a princípio, não parecia destinada ao fado.
Carlos do Carmo formou-se em línguas, gestão e hotelaria e, na sua juventude, tinha o gosto musical mais inclinado para alguns nomes da bossa-nova brasileira, para Frank Sinatra ou para Jacques Brel. De regresso a Portugal, Carlos do Carmo passou a gerir a casa de fados propriedade de seus pais, O Faia.
Só por insistência de amigos e de um público cada vez mais adepto da sua voz e que o ouvia nas poucas vezes que cantava perante outros, Carlos do Carmo se decidiu por uma carreira de fadista. De início, ainda tentou compatibilizar a sua actividade de gestor com a arte de cantar o fado, mas o esforço era vão. Em 1963 gravou, pela Valentim de Carvalho, o seu primeiro disco, Loucura. Os êxitos começaram e ampliaram-se até Carlos do Carmo ser considerado, nos dias de hoje, um nome maior do fado masculino.
Temas como Por Morrer uma Andorinha, Bairro Alto, Gaivota, Canoas do Tejo, Os Putos, Lisboa Menina e Moça e Estrela da Tarde são hoje grandes clássicos. O seu gosto pelo fado ganhou forma à medida que a carreira se foi formando por entre uma unanimidade clara em relação ao seu talento como artista. Intérpretes como Maria Tereza de Noronha e José Afonso fazem parte dos escolhidos pelo seu gosto erudito e eclético. Ecletismo que, de resto, tem sido uma imagem de marca da carreira de Carlos do Carmo. Longe do fado tradicional, de características marialvas e saudositas, o fadista de Carlos do Carmo no Casino do Estoril.
Preferiu sempre cantar as Letras de autores mais “optimistas”, textos e poemas mais virados para o futuro. É desta forma que Carlos do Carmo tem a colaboração de autores como José Carlos Ary dos Santos e de músicos como Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, José Mário Branco ou José Luís Tinoco.
Carlos do Carmo revelou-se um intérprete notável em todas as vertentes, alargando os horizontes do fado como ninguém, a partir da década de setenta.
A gestão magistral da sua carreira conduziu Carlos do Carmo a alguns dos mais importantes palcos de todo o mundo: Olympia e Auditório Nacional, em Paris; Óperas de Frankfurt e Wiesbaden; Canecão, no Rio de Janeiro; Savoy, em Helsínquia; Teatro da Rainha, em Haia; Teatro de São Petersburgo; Place dês Arts, em Montreal; Tivoli, em Copenhaga; e Memorial da América Latina, em São Paulo. Em Portugal, os concertos que realizou na Fundação Calouste Gulbenkian e nos Jerónimos são dois dos pontos mais altos da sua carreira.
A sua enorme e serena capacidade de enfrentar as câmaras da televisão levou-o, ainda em início de carreira, a dar um espectáculo de music-hall no programa Curto-Circuito. Aí foi aplaudido como fadista mas criticado por interpretar Brel ou Manuel Freire. O tempo calou as críticas e Carlos do Carmo, foi protagonista, em 1976, de um feito único na história da televisão portuguesa: interpretou, a convite da RTP, todas as canções candidatas ao Festival da Canção. Os oito temas seleccionados foram votados pelo público, ganhando a canção Flor de Verde Pinho, de Manuel Alegre e José Niza. Do evento foi gravado Uma Canção Para a Europa, que é hoje uma das maiores raridades da sua obra.
Em 1977, Carlos do Carmo terá atingido, porventura, o patamar superior da sua obra, ao gravar Um Homem na Cidade, álbum conceptual com letras de Ary dos Santos. Neste disco, Carlos do Carmo interpreta êxitos como O Cacilheiro, O Homem das Castanhas, O Amarelo da Carris e Balada de Uma Velhinha.
Ao sucesso de Um Homem na Cidade segue-se Um Homem no País, de 1984, o primeiro CD gravado por um artista português. Neste trabalho, Carlos do Carmo volta a interpretar poemas de Ary dos Santos, com músicas de José Mário Branco, Paulo de Carvalho, Fernando Tordo e José Afonso. O mais recente trabalho do fadista é Margens, de 1986, sob a orientação de José Luís Tinoco.